O estudo divulgado ontem pela APF tem uma enorme importância pois é o primeiro estudo de base populacional feito no país onde as mulheres são directamente inquiridas, segundo um amostra muito significativa de 2000 mulheres, de todas as regiões do país. É de realçar as metodologias utilizadas pela empresa que fez o estudo que procurou preservar a privacidade nos momentos cruciais em que as mulheres teriam de preencher a parte do questionário relativa aos abortos que realizaram.
O estudo mostra que o problema do aborto, não é uma questão residual ou marginal como alguns articulistas de jornais de referência escreveram há poucos dias atrás.
18 mil casos de aborto por ano é uma realidade que não pode ser escondida ou ignorada.
O estudo demonstra ainda que cerca de 73% das mulheres fizeram o aborto até às 10 semanas, o que demonstra, que mesmo numa situação de ilegalidade as mulheres procuram interromper a gravidez o mais depressa possível, excepção em relação às mulheres com práticas religiosas regulares que retardam a sua decisão.
Deste modo, cai por terra a falsa questão colocada pelos defensores do Não: "O que se faz às mulheres com 10 semanas e um dia que vão abortar?" Numa situação de legalidade as mulheres irão continuar a interromper a gravidez até às 10 semanas. Como todas as leis, a que sairá após o referendo tem de ter necessariamente os seus limites!
Outra questão importante que se pode retirar do estudo é que a esmagadora maioria das mulheres apenas fizeram um aborto, pelo que a ideia "peregrina" do Não de que a despenalização vai fazer do aborto um método contraceptivo também cai por terra.
O estudo analisou ainda os sentimentos das mulheres após terem feito uma interrupção de gravidez. Constatou-se que 28,5% das mulheres tem um sentimento de culpa (decerto devido à situação de ilegalidade e de condenação moral), 26,2% de dúvida, mas o que é surpreendente é que 32% declaram que o sentimento foi de alívio. Este é um dado novo na análise do chamado "trauma pós aborto" que seria interessante vir a desenvolver em futuros estudos.
Os motivos invocados pelas mulheres foram de ordem social ou emocional: - económicos, ser muito jovem, ter acabado de ter um filho, instabilidade conjugal e não querer ter mais filhos.
Ora, nenhum destes motivos se insere na actual lei pelo que a sua alteração se coloca como forma de dar resposta, aos problemas colocados pelas mulheres que decidem interromper uma gravidez não desejada.
Esta é uma pequena reflexão com base em alguns números retirados à pressa na altura da apresentação, mas creio que uma reflexão mais aprofundada nos darão outras pistas de análise muito interessantes.
Por último, salientar o projecto lançado pela APF da linha "Opções Nós estamos aqui" de apoio à gravidez não desejada. Aqui fica o número para divulgar: 707 200 249 a funcionar de 2ª a 6ª feira, entre as 12h e as 20h.
Parabéns à APF por todo este trabalho. Um trabalho sério, profundo que tem contribuído para que os direitos sexuais e reprodutivos no nosso país passem a ser encarados como direitos humanos.
* por Manuela Tavares
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