sábado, 27 de janeiro de 2007

O modelo espanhol e a má fé de Marcelo

Helena Matos, Blogue Sim no Referendo, 27/1/2007

O vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o que designa como modelo espanhol é um claro exemplo de má fé. Marcelo baralha o imbaralhável para colocar as cartas a seu jeito. Mas faz batota. O casamento entre homossexuais é uma coisa. A adopção por casais homossexuais é outra. E o aborto então é absolutamente outra. Quanto ao progressismo nem vale a pena falar.
O que aconteceu de diferente entre Portugal e Espanha foi o facto de, em Portugal, ter vingado o espírito Marcelo Rebelo de Sousa. Ou seja as pessoas, no caso as mulheres, podem abortar mas o seu pedido tem de ser analisado, ponderado e decidido por outras pessoas que avaliam a fundamentação do seu pedido. Um dos nossos erros desde o anterior referendo foi não termos discutido os pareceres das comissões de ética. Caso o tivéssemos feito perceberíamos que de hospital para hospital os critérios variam. Mantendo-se apenas a arrogância.
(...)
Para Marcelo Rebelo de Sousa e quejandos o problema não é o feto ou o embrião. O problema são as mulheres. O que está em causa é a profundíssima misoginia de Marcelo Rebelo de Sousa. Este é o discurso de quem não acredita que as mulheres possam ter livre arbítrio. E isto transposto no discurso médico tem levado também em alguns casos a que os médicos não percebam ou estranhem a opção daquelas mulheres que, uma vez informadas que o feto tem uma deficiência, resolvem não abortar. Para esta gente o problema não é o que as mulheres escolhem. O problema é que elas possam escolher sem o seu aval, parecer, conselho, pancadinha no ombro...
(...)
Por mais voltas que se dê deparamos inevitavelmente nesta questão com a concepção das mulheres como pessoas que não podem decidir sozinhas. (...) Se o aborto fosse uma questão de homens há muito tempo que o assunto estava resolvido. Alguém os está a imaginar à espera que uma comissão decidisse se eles tinham ou não de continuar grávidos?!

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