sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Revista de Imprensa: "católicos pelo “sim” dizem que despenalização não contraria dogmas"

Campanha para o referendo
Aborto: católicos pelo “sim” dizem que despenalização não contraria dogmas

01.02.2007 - 20h35, daqui.

Católicos que integram os movimentos a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez argumentam que a sua posição não é contrária à concepção de vida promovida pelo cristianismo.

A ideia foi sublinhada por Leonor Xavier, do movimento leigo "Nós Somos Igreja", logo no início de uma conferência de impressa em Lisboa promovida pelos cinco movimentos a favor do “sim” inscritos para participar na campanha para o referendo de dia 11.

"Votar sim é amor", afirmou a activistas, argumentando que a "compaixão por quem praticou um aborto também pode ser uma atitude cristã".

Alcilene Cavalcante, do movimento internacional Católicas pelo Direito de Decidir, realçou que "o aborto não é uma matéria dogmática do pensamento católico" e que entre os crentes "há diferentes vozes". "A visão do Papa, da hierarquia católica, é apenas uma, a visão oficial, institucional, da hierarquia da Igreja, diga-se de passagem composta apenas por homens", declarou a dirigente deste movimento.

Também como "cidadão e como crente" se apresentou o sociólogo José Manuel Pureza, que se afirmou "preocupado" por "viver num país onde se confunde de maneira deliberada pecado e crime" e que, por isso, "se parece com um regime de um fundamentalismo religioso inqualificável".

Citando o episódio do Novo Testamento do apedrejamento de uma mulher, em que Jesus incita aqueles que nunca pecaram a atirar a primeira pedra, José Manuel Pureza salientou que o exemplo de Cristo foi o de "transformar a vida da mulher pelo perdão e não a conformar com a aplicação da lei".

”Jesus foi o primeiro libertador da mulher

Também Deolinda Machado, da comissão executiva da CGTP, que afirmou lutar "dentro da Igreja pela transformação", invocou a figura de Jesus de Nazaré para o considerar "o primeiro libertador da mulher".

A sindicalista lamentou que os oito anos que passaram desde o primeiro referendo sobre a despenalização do aborto "mostraram que nada se quis fazer" em matéria de educação sexual, tanto na sociedade como nas famílias.

A conferência de imprensa, cuja plateia era quase exclusivamente constituída por defensores do voto 'sim', contou ainda com a presença das deputadas socialista Fernanda Asseiceira e da social-democrata Maria Ofélia Moleiro.

Esta última, que adiantou ter votado 'não' em 1998, explicou que agora defende o voto no 'sim' "exactamente pelas mesmas convicções".

Em 1998, "politicamente ainda estava imbuída da esperança de que logo a pós [o referendo] se implementasse uma política integrada do Estado" na informação sexual e apoio social à mulher grávida, explicou a deputada.

Mas "passaram oito anos e nada aconteceu, [excepto] uma quantas medidas casuísticas", e como a "realidade é muito mais rápida do que a assumpção de políticas pelo Estado", é necessário "acautelar uma [situação] trágica e uma política de saúde pública errada", concluiu.

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