sábado, 3 de fevereiro de 2007

São católicos e militam pela despenalização

Pedro Correia, Diário de Notícias, 3/2/2007

São católicos e votam "sim" no referendo do dia 11. Mantendo a plenitude das suas convicções. Porque, como garantem ao DN, despenalizar a mulher que interrompe uma gravidez não significa apoiar o aborto.

"O 'sim', com aconselhamento, permite salvar algumas vidas maternas e alguns embriões. O 'não', mantendo o aborto clandestino, não salva nem uma coisa nem outra", garante o médico Miguel Oliveira da Silva, ginecologista e obstetra. (...)
José Leitão é outro católico que milita pelo "sim". Na sua perspectiva, "o aborto deve ser legal, seguro e raro". Ex-alto-comissário para as minorias étnicas, este dirigente nacional do PS afirma que "deve ser encontrada uma solução equilibrada, que saiba ponderar diversos valores - a vida, a livre opção da mulher, o valor da responsabilidade e também o valor da compaixão com pessoas que estão em grande sofrimento". Estes valores "devem ser complementares e não antagónicos".(...)
A jurista Marta Rebelo, que também integra a Comissão Nacional do PS, sublinha que "Deus está na consciência de cada um que nele crê e a resposta ao referendo também está na consciência de cada um". (...)
Algo muito parecido da posição de Maria João Sande Lemos, que participou em 1974 na fundação do PSD: "A grande lei que Jesus nos ensinou foi esta - Amar o próximo como a nós mesmos." Membro do movimento Nós Somos Igreja, que contesta diversas posições da hierarquia católica, esta social-democrata defende "o primado da consciência", o que a impede de "impor" a sua visão de sociedade, enquanto católica, "às pessoas que o não são". De resto, acrescenta, "a Igreja-instituição, ao longo da sua História, tem-se enganado redondamente". Foi assim "nas cruzadas, na Inquisição e na defesa da pena de morte", que só desapareceu do catecismo católico em 1993, já no pontificado de João Paulo II.
O advogado Adolfo Mesquita Nunes é outro católico que vota "sim". E explica porquê. "Um referendo tem a ver com leis penais e não tem a ver com o meu comportamento privado. Não posso impor a minha visão pessoal aos outros", sublinha este militante do CDS, que escreve no blogue A Arte da Fuga.
Também ao DN, o padre Anselmo Borges defende que "as pessoas devem votar de acordo com a sua consciência". Para um católico - assegura este professor de Filosofia - "um voto 'sim' não é incompatível" com a obediência às regras da Igreja. Porque a pergunta do referendo coloca-se "no plano jurídico-formal" e não no plano ético. "O 'sim', tal como o 'não', defende a vida. Ninguém é a favor do aborto", conclui este sacerdote, que prefere não revelar a sua opção de voto.

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