Aborto: grande maioria de defensores do "sim" diz que irá votar "de certeza"
12.01.2007 - 08h51 Ricardo Dias Felner , PÚBLICO
Perto de 60 por cento dos eleitores tem a intenção de votar "sim" no referendo à interrupção voluntária da gravidez, contra cerca de 29 por cento de intenções de voto no "não", de acordo com uma sondagem da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e Rádio Clube.
Se se contabilizarem apenas os votos válidos, obtidos através da simulação de voto em urna, o resultado do próximo referendo seria de 67 e 33 por cento, para o "sim" e para o "não", respectivamente. Dois terços, um terço, ou dois votos "sim" para cada voto "não".
Os defensores do "sim" são também aqueles que revelam maior vontade de exercer o seu direito de voto na consulta popular marcada para o dia 11 de Fevereiro. Segundo os dados do estudo, cerca de 70 por cento dos que responderam afirmativamente à pergunta sobre a despenalização da IVG até às dez semanas de gravidez disseram ser sua "intenção ir votar de certeza". Este indicador contrasta com a aparente desmobilização dos defensores do "não": entre os entrevistados com essa opção, só cerca de 30 por cento mostrou a mesma convicção de que irá mesmo votar.
Admite-se, contudo, que exista uma ligeira distorção nestes resultados resultante da aparente sobrerrepresentação, na amostragem, de inquiridos próximos do PCP e do Bloco de Esquerda (13 por cento e 8,8 por cento, respectivamente), dois partidos particularmente empenhados no tema do aborto. Essa distorção decorrerá do nível de disponibilidade para responder aos questionários: ao tomar conhecimento de que o tema da sondagem era o aborto, os militantes de esquerda terão acededido mais facilmente a participar no estudo do que os dos restantes partidos.
Em todo o caso, se se tomar apenas em consideração os votantes no PS e no PSD, a percentagem de inquiridos que afirmaram ir "votar de certeza" mantém-se próxima dos 70 por cento (69 e 68 por cento) - números superiores aos revelados pelos simpatizantes do PCP (61 por cento) mas inferiores aos dos BE (77 por cento).
Ainda no domínio das intenções de voto, apenas 10 por cento revelou, desde já, não estar disposto a ir votar. Mas, para se perspectivar o nível de abstenção, este número deve ser cruzado com as respostas à pergunta directa sobre a participação: se se somarem os inquiridos que admitem não ir votar (nas suas diversas gradações de indisponibilidade), esse valor sobe para 38 por cento.
Acresce ainda que, geralmente, se tem verificado que, por pudor cívico, os abstencionistas, quando contactados pelas empresas de sondagens, tendem a esconder o seu desinteresse, pelo que os níveis de abstenção detectados nas sondagens é, por regra, menor do que o que acaba por se verificar nos resultados eleitorais.
Outro indicador que resulta da sondagem é a acentuada intenção de votar "sim" por parte dos mais jovens. Entre os 18 e os 34 anos, 72 por cento responderiam "sim" à pergunta referendada - perto do dobro dos que manifestaram a mesma intenção de voto no escalão de mais de 65 anos.
Este é, no entanto, apenas um indicador de que os defensores da despenalização até às 10 semanas, por opção da mulher, estão sobretudo entre as comunidades urbanas, normalmente mais jovens. A conclusão é reforçada pelo elevado nível de instrução dos votantes no "sim", bem como pela alta percentagem de solteiros ou pessoas que vivem juntas - características sócio-demográficas também associadas às cidades.
De entre os que têm uma instrução alta, só 20 por cento respondeu votar "não", contra 73 por cento com intenções de votar "sim". No que respeita ao estado civil, dois factores importantes: os solteiros (70%) e os divorciados (65%) estão claramente do lado do "sim"; as pessoas casadas pela Igreja, bem como o grupo dos que têm filhos são os que estarão mais divididas (o "sim" situa-se na casa dos 50 por cento, o "não" na casa dos 30 por cento).
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