domingo, 4 de fevereiro de 2007

Revista de imprensa: Segurança Social critica uso de crianças em propaganda contra despenalização da IVG

Cartoon de Luís Afonso, de 4/02/2007, tirado do "Público".

Infantários enviam carta para pais através dos filhos
Segurança Social critica uso de crianças em propaganda contra despenalização da IVG
Lusa, 02/02/2007, daqui

O Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal (CDSS) considerou hoje "ilegítima" a utilização de crianças dos infantários do Centro Paroquial da Anunciada para distribuição de propaganda contra a despenalização do aborto no referendo de Fevereiro, uma situação denunciada pelos pais de alguns dos menores ao cuidado da instituição.

"Não é legítima a utilização de crianças como veículo de propaganda e, nessa perspectiva, não me parece que tenha sido a melhor forma de fazer propaganda, independentemente das vontades e perspectivas de cada um", disse à agência Lusa a directora da CDSS, Fátima Lopes.

A responsável reage após a indignação manifestada por alguns pais que receberam uma carta enviada nas mochilas dos filhos pelos responsáveis dos infantários "A Nuvem" e "Aquário", do Centro Paroquial da Anunciada, acompanhada por propaganda da Associação de Médicos Católicos, da Associação dos Enfermeiros Católicos e de outras instituições ligadas à Igreja.

Na carta enviada pelo Centro Paroquial da Anunciada pode ler-se: "Querida Mamã. Apesar de tu não teres querido que eu nascesse, não posso deixar de te chamar "Mamã". Escrevo-te do mundo do além, para te dizer que estava muito feliz quando comecei a viver no teu seio. Eu desejava nascer, conhecer-te. E pensava que um dia seria uma criança muito alegre. Mas tu não pensavas como eu, não é verdade Mamã? E um dia, quando estava tão feliz a brincar no mais íntimo das tuas entranhas, senti algo muito estranho, que não saberia como explicar: algo que me fez estremecer. Senti que me tiravam a vida. Uma faca surpreendeu-me quando eu brincava feliz e quando só desejava nascer para te amar".

Uma das mães a quem a carta se dirigia considerou o conteúdo da missiva como "terrorismo, puro e duro", indica a Lusa. A directora do CDSS defendeu, por sua vez, que "o teor da carta é demasiado expressivo e não merece qualquer comentário", reforçando que as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que beneficiam do apoio do Estado, não podem tomar posição no referendo.

"O CDSS não pode, nem deve, por imperativos de ordem deontológica legal, tomar posição em relação a este referendo. Por isso mesmo, se o CDSS não pode, isto estende-se à sua rede de serviços", explicou Fátima Lopes.

A responsável escusou-se, no entanto, a adiantar eventuais medidas que poderão ser tomadas pela Segurança Social, relativamente à instituição que utilizou as crianças para distribuir propaganda contra a despenalização do aborto até às dez semanas no referendo de 11 de Fevereiro.

"Vamos avaliar o que se passou e só depois disso é que poderei tomar uma decisão, em consonância com o Conselho Directivo do Instituto de Segurança Social", esclareceu.

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